domingo, 10 de julho de 2016

LATIM - WIKIPÉDIA

Latim

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Latim
Falado em:Vaticano
Total de falantes:Números desconhecidos
Família:Indo-europeia
 Itálica
  Latino-faliscas
   Latim
Escrita:Alfabeto latino
Estatuto oficial
Língua oficial de: Vaticano
Regulado por:Pontifícia Academia de Latinidade
Códigos de língua
ISO 639-1:la
ISO 639-2:lat
ISO 639-3:lat
Região de origem do Latim (Latin), no centro da Itália.
Extensão territorial do Império Romano em117. As áreas em verde claro indicam os estados clientes (vassalos) do Império Romano.
língua latina[1] [2] ou latim é uma antiga língua indo-europeia do ramo itálico originalmente falada no Lácio, a região do entorno da cidade de Roma. Foi amplamente difundida, especialmente na Europa Ocidental, como a língua oficial da República Romana, do Império Romano e, após a conversão deste último ao cristianismo, da Igreja Católica Romana. Através da Igreja Católica, tornou-se a língua dos acadêmicos e filósofos europeus medievais. Por ser uma língua altamente flexiva e sintética, a sua sintaxe(ordem das palavras) é, em alguma medida, variável, se comparada com a de idiomas analíticos como o português, embora em prosa os romanos tendessem a preferir a ordem SOV. A sintaxe é indicada por uma estrutura de afixos ligados a temas. O alfabeto latino, derivado dos alfabetos etrusco e grego (por sua vez, derivados do alfabeto fenício), continua a ser o mais amplamente usado no mundo.
Embora o latim seja hoje uma língua morta, ou seja, uma língua que não mais possui falantes nativos, ele ainda é empregado pelaIgreja Católica para fins rituais e burocráticos. Exerceu enorme influência sobre diversas línguas vivas, ao servir de fonte vocabular para a ciência, o mundo acadêmico e o direito. O latim vulgar, nome dado ao latim no seu uso popular inculto, é o ancestral daslínguas neolatinas (italianofrancêsespanholportuguêsromenocatalãoromanche e outros idiomas e dialetos regionais da área); muitas palavras adaptadas do latim foram adotadas por outras línguas modernas, como o inglês. O fato de haver sido alingua franca do mundo ocidental por mais de mil anos é prova de sua influência.
O latim ainda é a língua oficial da Cidade do Vaticano e do Rito Romano da Igreja Católica. Foi a principal língua litúrgica até oConcílio Vaticano Segundo nos anos 1960. O latim clássico, a língua literária do final da República e do início do Império Romano, ainda hoje é ensinado em muitas escolas primárias e secundárias, embora seu papel se tenha reduzido desde o início do século XX.

História[editar | editar código-fonte]

inscrição Duenos, do século VI a.C., é um dos textos mais remotos em latim antigo, provavelmente da tribo dos latinos
O latim integra as línguas itálicas e seu alfabeto baseia-se no alfabeto itálico antigo, derivado do alfabeto grego. No século IX a.C. ou VIII a.C., o latim foi trazido para a península Itálica pelos migrantes latinos, que se fixaram numa região que recebeu o nome de Lácio, em torno do rio Tibre, onde a civilização romana viria a desenvolver-se. Naqueles primeiros anos, o latim sofreu a influência da língua etrusca, proveniente do norte da Itália e que não era indo-europeia.
A importância do latim na península Itálica firmou-se gradativamente. A princípio, o latim era apenas a língua de Roma, uma pequena cidade circundada por vários centros menores (LanúvioPrenesteTívoli), nos quais se falavam dialetos latinos ou afins ao latim (ofalisco, língua da antiga cidade de Falérios). Já a poucos quilômetros de Roma, eram faladas línguas muito diversas: o etrusco e sobretudo o grupo indo-europeu das línguas itálicas - o umbro no norte e o osco no sul, até a atual Calábria. Na Itália setentrionalfalavam-se outras línguas indo-europeias como o lígure, o gálico e o venético. O grego era difundido nas numerosas colônias da Sicília e da Magna Grécia. Ao longo de toda a era republicana, a situação linguística da Itália permaneceu muito variada: o plurilinguismo era uma condição comum, e os primeiros autores da literatura, como Ênio e Plauto dominavam latim, grego e osco.

Diacronia[editar | editar código-fonte]

Além das variações regionais, mesmo o latim de Roma não foi uma língua sempre igual a si mesma, apresentando fortes diferençasdiacrônicas e sociolinguísticas. Do ponto de vista diacrônico, deve-se distinguir:[3] [4]
Embora a literatura romana sobrevivente seja composta quase inteiramente de obras em latim clássico, a língua falada no Império Romano do Ocidente na Antiguidade tardia(200 a 600 d.C)[4] era o latim vulgar, que diferia do primeiro em sua gramáticavocabulário e pronúncia.
O latim manteve-se por muito tempo como a língua jurídica e governamental do Império Romano, mas, com o tempo, o grego passou a predominar entre os membros da elite culta romana, já que grande parte da literatura e da filosofia estudada pela classe alta havia sido produzida por autores gregos, em geral atenienses. Na metade oriental do Império, que viria a tornar-se o Império Bizantino, o grego terminou por suplantar o latim como idioma governamental e era a lingua franca da maioria dos cidadãos orientais, de todas as classes.
Após a sua transformação nas línguas românicas, o latim continuou a fornecer um repertório de termos para muitos campos semânticos, especialmente culturais e técnicos, para uma ampla variedade de línguas.

Ortografia[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Alfabeto latino
Réplica da escrita cursiva romanainspirada pelos tabletes de Vindolana
A língua dos antigos romanos teve um forte impacto em culturas posteriores, como demonstra esta Bíblia em latim eclesiástico, de1407
Os romanos usavam o alfabeto latino, derivado do alfabeto itálico antigo, o qual por sua vez advinha do alfabeto grego. O alfabeto latino sobrevive atualmente como sistema de escrita das línguas românicas (como o português), célticasgermânicas (inclusive oinglês) e muitas outras.
Os antigos romanos não usavam pontuaçãomacros (mas empregavam ápices para distinguir entre vogais longas e breves), nem as letras j e uletras minúsculas (embora usassem uma forma de escrita cursiva) ou espaço entre palavras (mas por vezes empregavam-se pontos entre palavras para evitar confusões). Assim, um romano escreveria a frase "Lamentai, ó Vênus[9] e cupidos" da seguinte maneira:
LVGETEOVENERESCVPIDINESQVE
Esta frase seria escrita numa edição moderna como:
Lugete, O Veneres Cupidinesque
Ou, com macros:
Lūgēte, Ō Venerēs Cupīdinēsque
escrita cursiva romana é encontrada nos diversos tabletes de cera escavados em sítios como fortes, como por exemplo os descobertos em Vindolana, na Muralha de Adriano, na Grã-Bretanha.

Legado[editar | editar código-fonte]

Romania submersa (em preto): territórios pertencentes ao Império onde as línguas românicas não desenvolveram-se ou desapareceram.
A expansão do Império Romano espalhou o latim por toda a Europa e o latim vulgar terminou por dialetar-se, com base no lugar em que se encontrava o falante. O latim vulgar evoluiu gradualmente de modo a tornar-se cada uma das distintas línguas românicas, um processo que continuou pelo menos até o século IX. Tais idiomas mantiveram-se por muitos séculos como línguas orais, apenas, pois o latim ainda era usado para escrever. Por exemplo, o latim foi a língua oficial de Portugal até 1296, quando foi substituído peloportuguês. Estas línguas derivadas, como o italiano, o francês, o espanhol, o português, o catalão e o romeno, floresceram e afastaram-se umas das outras com o tempo.
Dentre as línguas românicas, o italiano é a que mais conserva o latim em seu léxico,[10] enquanto que o sardo é o que mais preserva a fonologia latina.[11]
Algumas das diferenças entre o latim clássico e as línguas românicas têm sido estudadas na tentativa de se reconstruir o latim vulgar. Por exemplo, as línguas românicas apresentam um acento tônico distinto em certas sílabas, ao qual o latim acrescentava uma quantidade vocálica distinta. O italiano e o sardo logudorês possuem, além do acento tônico, uma ênfase consonantal distinta; o espanhol e o português, apenas o acento tônico; e no francês, a quantidade vocálica e o acento tônico já não são distintos. Outra grande diferença entre as línguas românicas e o latim é que as primeiras, com exceção do romeno, perderam os seus casos gramaticais para a maioria das palavras, afora alguns pronomes. A língua romena possui um caso direto (nominativo/acusativo), um indireto (dativo/genitivo), um vocativo e é o único idioma que preservou do latim o gênero neutro e parte da declinação.[12]
Embora não seja uma língua românica, o inglês sofreu forte influência do latim. Sessenta por cento do seu vocabulário são de origem latina, em geral por intermédio do francês. O mesmo ocorreu com o maltês, uma língua semítica falada na República de Malta, na costa sul da Itália, que fora influenciado por 50% de palavras italianas e sicilianas e, em menor grau, pelo francês em seu léxico, e que mais recentemente fora influenciado pelo inglês em 20% de seu léxico. Também herdou o alfabeto latino, sendo a única língua semítica a ser escrita neste alfabeto.
Ademais do português, outras línguas românicas surgidas a partir do latim incluem o espanhol, o francês, o sardo, o italiano, o romeno, o galego, o occitano, o rético, o catalãoe o dalmático - este, já extinto. As áreas onde as línguas românicas extintas eram faladas, são denominadas Romania submersa.
Como o contacto com o latim escrito se manteve ao longo dos tempos, mesmo muito depois de o latim deixar de ter falantes nativos, muitas palavras latinas foram sendo introduzidas em muitas línguas. Este fenómeno acentuou-se desde o Renascimento, altura em que a cultura clássica foi revalorizada. Sobretudo o inglês e as línguas românicas receberam (e continuam a receber) muitas palavras de origem latina, mas bastantes outras línguas também o fizeram. Em especial, muitos novos termos dos domínios técnicos e científicos têm na sua base palavras latinas.

Uso moderno[editar | editar código-fonte]

A sinalização da estação de metrô de Wallsend, na Inglaterra, está em inglês e latim como uma homenagem ao papel de Wallsend como um dos postos avançados do império romano
O latim vive sob a forma do latim eclesiástico usado para éditos e bulas emitidos pela Igreja Católica, e sob a forma de uma pequena quantidade esparsa de artigos científicos ou sociais escritos utilizando a língua, bem como em inúmeros clubes latinos. O vocabulário latino é usado na ciência, na universidade e no direito. O latim clássico é ensinado em muitas escolas, muitas vezes combinado com o grego, no estudo de clássicos, embora o seu papel tenha diminuído desde o início do século XX. O alfabeto latino, juntamente com suas variantes modernas, como os alfabetos inglêsespanholfrancêsportuguês e alemão, é o alfabeto mais utilizado no mundo. Terminologia decorrente de palavras e conceitos em latim é amplamente utilizada, entre outros domínios, na filosofiamedicinabiologia e direito, em termos e abreviações como subpoena duces tecumlato sensuetc.i.e.q.i.d. (quater in die: "quatro vezes por dia") e inter alia (entre outras coisas). Estes termos em latim são utilizados isoladamente, como termos técnicos. Em nomes científicos para organismos, o latim é geralmente o idioma preferido, seguido pelo grego.
A maior organização que ainda usa o latim em contextos oficiais e semioficiais é a Igreja Católica (principalmente na Igreja Católica de Rito Latino). A Missa tridentina usa o latim, apesar do rito romano costumar utilizar o vernáculo local; no entanto, pode ser e muitas vezes é rezado em latim, particularmente no Vaticano. Na verdade, o latim ainda é a língua padrão oficial do rito romano da Igreja Católica e oConcílio Vaticano II apenas autorizou que os livros litúrgicos fossem traduzidos e, opcionalmente, usados nas línguas vernáculas. O latim é alíngua oficial da Santa Sé e do Vaticano. A Cidade do Vaticano é também onde está instalado o único caixa eletrônico onde as instruções são dadas em latim.[13]
Nos casos em que é importante empregar uma língua neutra, como em nomes científicos de organismos, costuma-se usar o latim.
Alguns filmes, como A Paixão de Cristo, apresentam diálogos em latim. A música 'Nirvana' do Grupo El Bosco é cantada, parte em latim, e em seguida em inglês.
Muitas organizações ainda hoje ostentam lemas em latim, como o estado brasileiro de Minas Gerais (libertas quæ sera tamen).

Características[editar | editar código-fonte]

É caracterizado por ser uma língua flexiva. No caso dos substantivos e adjetivos a flexão é denominada declinação, no caso dos verbos, conjugação.
No latim clássico cada substantivo ou adjetivo pode tomar seis formas ou casos:
Também existem resquícios de um sétimo caso de origem indo-europeia, o locativo, que indica localização (por exemplo: domī , "em casa"), no entanto, este é limitado a palavras específicas.
Outra característica distintiva do latim é o uso de formas simples para expressar a voz passiva dos verbos, além de uma forma verbo-nominal muito frequente chamada desupino. Ambas formas se perderam nas línguas românicas.