AMARO DE ROBOREDO
Este português no século XVII foi o mais importante gramático, pois entre os anos de 1615 e 1625 publicou algumas obras da historiografia lingüística portuguesa e latim. Amaro nasceu em Algoso, Portugal.
Suas principais Obras foram:
- Verdadeira grammatica latina para se bem saber em breve tempo, scritta na lingua Portuguesa com exemplos na Latina, 1615 (Lisboa: Pedro Craesbeeck)
- Regras da Orthographia Portu¬gueza (Lisboa: António Álvares)
- Methodo Grammatical para Todas as Linguas (1616,Lisboa: Pedro Craesbeek)
- O dicionário Raizes da Lingua Latina mostradas em hum trattado e diccionario (1621,Lisboa: Pedro Craesbeek).
- Porta de línguas(1623) ou modo muito accommodado para as entender
- Grammatica Latina de Amaro de Roboredo. Mais breve, e facil que as publicadas até agora na qual prece¬dem os exemplos aas regras (1625,Lisboa: Antonio Alvarez).
CRITICA A VERDADEIRA GRAMÁTICA LATINA
Os opositores ao sistema pedagógico de ensino de Latim feito por Roboredo tinham 8 objeções, que transcrevemos na íntegra conforme o português falado na época:
i. “Se este modo de grammaticar fora bom ja pelos antigos stevera ensi¬nado” (Ibidem: ff. 56 v.-57 r.);
ii. “Quando este methodo fora de proveito os que teem carrego publico de ensinar, o pratticarão (Ibidem: ff. 57 r.-57 v.);
iii. “Nas Conjugações faltão modos, & algüs tempos” (Ibidem: ff. 57 v.-58 v.);XXV
iv. “E[sta Arte h]e falta de rudimentos & diminuta no genero” (Ibidem:ff. 58 v.-59 r. );
v. “He demi[n]uta nas partes da oração, porque todos ensinaõ oito” (Ibidem: ff. 59 r.-62 r.);
vi. “He falso [reger todo o] verbo, que não for passivo, accusativo, & n[ão regerem] os [ver]bos neutros dativo, & outros ou[tro caso] (Ibidem:ff. 62 v.-64 r.);
vii. “E[sta] Grammatica da regencia por diante he mui larga, [para] a bre¬vidade que promete, & assi não fica mais curta que muitas que hoje se ensinaõ” (Ibidem: ff. 64 r.-64 v.);
viii. “Devia esta grammatica ser scritta na lingua latina assi para ornamento della como para os principiantes se acostumarem aa pronunciação das palauras latinas, & saberem suas significações” (Ibidem: ff. 64 v.-67 r.).
Amaro no Prólogo de introdução a sua Gramática destaca alguns fatores importantes que a sua gramática trazia de contribuição que a diferenciava de outras gramática da época, quando o ensino de Latim era bastante difundido:
A diligencia, que algüs teverão em acrescentar a Grammatica para que não ficasse diminuta, teverão outros em a diminuir, para que não fosse superflua (…). Fugindo pois extremos quanto pude, elegi do muito, o necessario, & de muitos o melhor, mais breve, & facil (Roboredo 1615: “Prologo”, ¶ 3 r.).
Por se não saber primeiro a língua Materna per arte, vão na Latina Mestres, & Discípulos morrendo com ambas juntas (…). Pode ser que seja eu o primeiro, que rompa o mato da minha Materna, como melhor soffrerem suas muitas irregularidades; exposto aos encontros de muitos que quererão defender suas Orthographias, cujas raizes ignoradas serão patentes na Grammatica: Et nos manum ferulae subduximus (Idem 2007: “Prologo”, b. 1v. [18])
Facil fora screver a arte em latim, mas absurd[u]m est scientiam simul, & modum scientiæ quærere, di[z Ari]stoteles, & Soares acerca do mesmo lugar (Ibidem: f. 64 v.);
Ninguem aprende hoje grammatica pelas que stão scrittas em latim, por mais que o discipu[lo] quebre a cabeça repetindo infinitas vezes o que não [ent]ende, senão da boca do mestre, que tambem quebra a [su]a em lhe querer meterna memoria as significações das p[a]lavras, & o conceito das regras (Ibidem: f. 65 r.).
O methodo he o mais facil, que me occorreo, ainda que largo por tocar com clareza cousas novas, & satisfazer a velhas, sem o que não seria a novidade bem acceita: porque o que stà acqui[rido em] boa fee per longo tempo, hedifficultoso deixar em breve: porq o discípulo decòre soomente os artigos apontados com esta dicção, Discipulo, & o mestre explique os que mostra esta, Mestre, para que fiquem entendidos: porq nem o discipulo deve decorar tudo, nem a arte ser falta delle (Idem 1615: “Prologo”, ¶ 3 r.).
O trabalho empregarà na muita explicação de livros, em que consiste tudo, & dos quaes aprendemos hoje a lingua Latina. Donde primeiro se ha de resolver, que compor: & logo hüa, & outra cousa reciprocamente, porque o que não sabe traduzir em lingua materna a oração, que o mestre lhe resolve em suas partes naturaes, [não sa]be traduzir a materna na latina, nem mutilala confo[r]me o uso, nem inteirala conforme a Grammatica (Ibidem: “Prologo”, ¶ 3 r.).
E por ser [a] primeira arte das liberaes, pareceo bem fazer com ella po[…]ria aas duas seguintes, para que a proporção de […]e ellas facilite ao principiante a aprensaõ. Se ao orador pois da a a Logica para a sua oração, invëção, & disposição, & a Rhetorica o ornamëto, tãbë ao grammatico para a sua lhe offerece esta arte as primeiras quatro [divi]soës de [i]nvenção, & as cinquo seguin[t]es de disposição, & [a] ultima para ornamento com [a] variedade de decli[n]ações, & figuras. E se algüs Rhetoricos meterã[o] na disposição a memoria, também lhe responde o artigo terceiro da divisaõ [qu]inta, onde começa nossa disposição. E se no fim de […] [tra]ttão a pronunciação daoração, tambem no fim do nosso ornato trattamos a pronunciação da dicção, & per conseguinte da mesma oração: la como orador, aqui como grammatico (Ibidem: “Prologo”, ¶ 4 r.).
A muitos, q se sabem não sa[be]m sair do que studarão, não pude bem per¬suadir a brevidade deste methodo: porem não faltando o trabalho do mestre(deixando ingenhos tam excellentes, & laboriosos, que em seis meses esgo¬tarão a Grammatica) os que em dez, ou doze a não perceberem, ou andao distrahidos, ou não studão, ou não teem ingenho natural para esta (Ibidem: “Prologo”, ¶ 3 v.);
O intento de tudo, não he publicação de nome vão em cousa tal, & que qual¬quer melhor fezera, mas o proveito do proximo a quem lembro se deseja grammatica, que se aproveite, & ao censurador, que antes da sentença leèa as repostas das objeições, que vão no fim: & se determina examinar affeito ao que studou, ou leo, não passe dàqui, porque vai o juizo suspeito, & [tu]do lhe descontentara: soomente fique sabendo, que [s]e pode per este caminho saber em hum anno, o que [per o]utros em tres, & quatro, no cabo dos quaes fi[c]ão os [stu]dantes sufficientes para começar, perdendo gastos[, g]astando tempo irrecuperavel (Ibidem: “Prologo”, ¶ 4 r.).
Participou este Methodo o aborrecimento do outro tambem apressado diri¬gido sô aa Latina, em que não fiz mais que provar a pena, & juntamenteas mordeduras. Porque lhe chamarom confuso, deminuto, instavel; nemquerião que se intitulasse verdadeiro, ainda que de sua verdade constasse. Arguião per hum dos argumentos de sua Logica, que he Enthimema de ante-cedente calado, assi: Eu não entendo este Methodo; logo elle não presta.O Antecedente por lhe tocar calarão: o Consequente por perjudicar, publicavão (Idem 2007: “Prologo”, a 2 r. [11]).
A diligencia, que algüs teverão em a[c]rescentar a Grammatica para que não ficasse diminuta, teverão outros em a diminuir, para que não fosse superflua, que discursos de mortaes carecem de [c]onsistencia. Fugindo pois extremos quanto pude, elegi do muito, o necessario, & de muitos o melhor, mais breve, & facil a quem imito. Este hè o Doutor Francisco Sanchez, a qu[e]m tambem seguirão os reformadores de Nibrissense no anno de nouenta, & oito, se elle não foi o principal (Idem 1615: “Prologo”, ¶ 3 r.).
As concordias, regencias, & partes da oração, & outras regras, ainda que em parte pareção fora do uso, saõ fundadas em philosophia: & assi servem para as outras linguas Grega, Hebraica, &c. Que não he pequeno atalho, pois soo com declinar, & conjugar advertindo as particularidades, que teverem de genero, & preteritos, se podem perceber, despois [da L]atina (Ibidem: “Prologo”, ¶ 3 v.).
As artes de accentuar, medir, & metrificar saõ tão conjuntas aa Grammatica, que muitos as fazem partes della: porque de concordar, & reger dicções, a entoalas, & medilas ha pouca distancia; assi como da oração solta aa ligada. Porem não saõ partes da grammatica, porque a Accentuaria he arte de entoar syllabas, & dicções, tem por fim hüa dicção bem entoada: a Mensuraria hè arte de medir syllabas, & dicções per pronunciações temporaes; seu fim hè a dicção bem medida: a Metrifica ensina a medir versos, tem por fim a oração ligada com certas m[e]didas, & certo numero dellas: a Accentuaria respeita a [or]ação solta, & rhythma: Mensuraria o pee, & metro: a Me[trifi]ca o verso, poema, & poesia, como fiïs remotos (Roboredo 1615: f. 48 v.).
Gonçalo Fernandes, Rogelio Ponce de Leon e Carlos Assunção fazem a seguinte declaração sobre a importância da Gramática latina de Amaro:
A Verdadeira grammatica latina, para se bem saber em breve tempo, scritta na lingua Portuguesa com exemplos na Latina (Lisboa 1615) de Amaro de Roboredo é um marco na historiografia linguística portu¬guesa, pela ruptura epistemológica que o seu autor procurou aplicar ao ensino da língua latina em Portugal: é a segunda gramática latina escrita em Português; Amaro de Roboredo pretendeu um equilíbrio entre a ratio e o usus, de modo a satisfazer quer as necessidades de aprendizagem dos alunos quer de ensino dos professores, especifi¬cando o que devia ser trabalhado pela memória daqueles e o que devia ser exposto nas aulas por estes; organizou o curso em dois níveis ou fases, o inicial e o de consolidação, particularizando a aprendizagem de um sequencialmente e de outro em espiral ou “circulo”; e sistemati¬zou aquilo que hoje são classificados pela linguística como morfemas casuais e modotemporais, de modo a visualmente os alunos estabele¬cerem as conexões respectivas.
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